ROTA ESTRADA D. MARIA I / D. MARIA PIA
Freguesia de Évora de Alcobaça – Rancho Folclórico de Moleanos
«Os deixados que a gente deixa… tenho tanto orgulho...»
Diz Clementina Matilde de Sousa depois de ter contado memórias da sua vida à beira da Estrada D. Maria Pia: «antes o lugar chamava-se Pedreira de Moleanos».
Paulo Jorge confirma: “este era o nome que a professora da Escola Primária escrevia no quadro”.
- «A estrada era terra batida. Foi arranjada com cascalho e alcatroada por volta de 1970. A vida melhorou, começou a haver carreira, e levava-se tudo na camioneta: frutas, batatas e couves para vender em Alcobaça. No início o Rancho não tinha sede, mas fizeram saias vermelhas com riscas pretas e ensaiaram com o José Lourenço, um dos fundadores. Ele até ia vender rifas para o Algarve, mesmo quando não era verão para arranjar dinheiro. A minha filha quando fez a casa aqui ao lado, teve de retirar uma oliveira antiga. Enterrou o cepo no quintal. Depois ele rebentou e ela transplantou-o para frente da casa e está uma nova e forte oliveira. Os batizados e os funerais eram em Évora. O cabo de ordem escolhia oito homens que levavam o caixão a pé por atalhos e carreiros até Évora. Agora já há cemitério do lado de Aljubarrota. Estas freguesias separam-se junto do Furo.»
- Nazaré Paula conta: «o marco que dividia os dois Moleanos era o Penedo Rosa. Fizeram lá obras e retiraram-no, mas a gente exigiu que fosse para lá novamente e foi! Era muito importante, diziam os mais antigos. Estive muitos anos em França, não sei explicar. O ‘Santo’ conhece? Tem a data de 1807. Diz a minha vizinha que o avô dela contava que havia um casal, que não queria que a filha namorasse um tal rapaz e eles começaram a espalhar que o rapaz era mais feio que o Santo. Então, o rapaz partiu o Santo, mas depois, teve de comprar outro e de deixar a namorada».
- E o Penedo era cor de rosa? E quem o fez?
«Ora, foi a natureza, é uma pedra, não muito grande.»
O Pitu disse: «melhor é ir ver o Penedo. Rosa, era o nome do dono da casa, que havia lá, e que já não existe, nem ele. Mas, há uma rua com esse nome de Rua do Penedo. Antes, as pessoas iam trabalhar a pé, e em grupos, e as que primeiro passassem aqui, faziam um risco no Penedo. Quem passava atrás já sabia que havia um grupo à frente.
A paisagem, à volta, era sobretudo olivais. Houve muitos lagares».
Alice Carvalho desde criança se interessa pelos lagares, suas histórias e ia tomando notas. Vivia no Casal da Charneca. Via olivais, terras de semeadura, caminhos de poeiras, animais e bicicletas. «Na carreira para Alcobaça ia a minha mãe, que tinha de ir apanhá-la à Pedreira, como se chamava ao lugar que agora é Moleanos. Para lá ia a pé com a cesta de queijos à cabeça. Queria chegar cedo, para apanhar um bom lugar de venda no mercado». O lagar da sua terra foi dos últimos a ser construído, no ano de 1950 no distrito de Leiria, era o maior da região, o lagar modelo, da empresa Quitério & Lourenço. Faz parte das suas lembranças de criança: «ia lá com os meus avós levar azeitona para moer no lagar, mas durou só até ao ano 2000. Outros lagares ainda vão resistindo. Lagar centenário em Chãs, de Manuel Carreira. Também o lagar de Zambujal - Carris com 120 anos, que ainda transforma o azeite à moda antiga. Mas o mais conhecido era o Zé Militar que tinha vários e dois nos Moleanos. Um deles, ao pé do Barreirão, muito bem restaurado é um museu e sede do Rancho Folclórico de Moleanos de Évora». Este Rancho fundado em 1978 tem organizado anualmente o seu Festival de Teatro. Desde 1995 tem o estatuto de instituição de utilidade pública e é considerado um dos mais representativos do concelho de Alcobaça. Ainda continua fazendo recolhas de costumes tradicionais e das danças, que executam e convivem, tal como noutros grupos locais, quer os Moleanenses de Évora, quer os Moleanenses de Aljubarrota. Dançam Verde Gaios, Modas a dois Passos, Fado e a Típica Dança Serrana preservando assim o Património Vivo das suas gentes.
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