Conferência "António Sérgio e o Cooperativismo"






Eleições para o Parlamento europeu e por que não ler, rever uma lenda, sobre a Europa neste dia em que falamos sobre António Sérgio e o Cooperativismo, e um texto dele apresentado pelo nosso orador Dr. João Leite!

 Europa era uma linda princesa fenícia. Como ainda não chegara à idade de casar, vivia com os pais num magnífico palácio e tinha por hábito dar longos passeios com as amigas nos prados e nos bosques. Certo dia quando apanhava flores junto da foz de um rio foi avistada por Zeus (o deus supremo) que se debruçava lá do Olimpo observando os mortais. Fascinado com tanta formosura, decidiu raptá-la. Para evitar a fúria da sua ciumentíssima mulher, quis disfarçar-se. Nada mais fácil para quem tem poderes sobrenaturais! Tomou a forma de um touro. Um belo touro castanho com um círculo prateado a enfeitar a testa. Desceu então ao prado e deitou-se aos pés da Europa. Ela ficou encantada por ver ali um animal tão manso, de pelo sedoso e olhar meigo. Primeiro afagou-o, depois sentou-se-lhe no dorso e... o touro disparou de imediato a voar por cima do oceano. A pobre princesa ficou assustadíssima. Mas não tardou a perceber que o raptor só podia ser um deus disfarçado, pois entre as ondas emergiam peixes, tritões e sereias a acenar-lhes. Até Posídon apareceu agitando o seu tridente.

Muito chorosa, Europa implorou que não a abandonasse num lugar ermo. Zeus consolou-a, mostrou-se carinhoso, prometeu levá-la para um sítio lindo que ele conhecia fora da Ásia. Prometeu e cumpriu. Instalaram-se na ilha de Creta e tiveram três filhos que vieram a ser famosos. Agora o nome da princesa é que ficou famosíssimo!

Agradou a poetas da Grécia Antiga que passaram a chamar Europa aos territórios para lá da Grécia. E agradou ao historiador Heródoto, que no séc. V a.C foi o primeiro a chamar Europa a todo o continente.

  
in A Europa dá as Mãos, Ana Maria Magalhães/Isabel Alçada
Fonte: Edição: Centro de Informação Europeia Jacques Delors, 1995.


… « em 1958, ano em que [António Sérgio] seria preso pela última vez […] publica Sobre o Espirito do Cooperativismo e coordena a edição do livro Cooperativismo,  Objetivos e Modalidades, em que participam os tertulianos que até ao final da sua vida receberia em sua casa, na Travessa do Moinho de Vento, local onde hoje  a sua biblioteca, em acelerada digitalização, está aberta a consulta pública.

Escreveu na primeira das suas obras o que considero ser o perfeito resumo do seu pensamento, algo que os cooperadores de hoje deveriam ter em total conta:

para qualquer cooperativista de visão segura,
o que primeiro interessa não é que existam cooperativas: é sim que
haja espirito cooperativo,    é que não faltem maneiras verdadeiramente cooperativas de pensar as coisas e de orientar os atos.
Isto é: o apreço das práticas de auxílio mutuo;
o apego ao principio de associação de pessoas ( e não de  capitais);
o desejo de abolir divergências de interesses e distinções de classe de origem económica;
o de suprimir intermediários;
o anseio de elevar cada um dos sócios à máxima plenitude de uma vida pessoal, e também
o conjunto de sócios da cooperativa à máxima beleza de uma vida em sociedade.
O empenho de, por uma obra persistente de educação do povo, preparar os homens para a vida cooperativa, e por esta elevá-la acima de si mesmos, lançar os alicerces de uma civilização mais nobre.’



in  JOAO SALAZAR LEITE  ‘ ANTÓNIO SÉRGIO, BREVES PERCURSO E HERANÇA, pp. 37, 38



Do beneditense Acácio Catarino com um longo currículo académico e profissional membro da Comissão de Honra do nosso projeto ‘Beautiful Benedita’  conhecido  colaborador regular, na imprensa regional, nos domínios do emprego, formação profissional e desenvolvimento social respigámos da net parte de um artigo sobre o Natal da sua terra pela ligação que faz entre esta festividade e o assunto que hoje aqui nos traz - o desenvolvimento social.

« […] Não se introduziu nas paróquias, por analogia, o modelo fraternal e «democrático» das antigas ordens religiosas. Também não se aproveitaram as potencialidades do cooperativismo e do mutualismo, recriados no século XIX, nem as do «desenvolvimento comunitário» dos anos sessenta do século passado, nem tão pouco a dinâmica do «desenvolvimento local» aparecida nos anos oitenta, e que perdura, continua hoje em dia, sem adesão significativa da maioria das paróquias em cujo território está implantado. Que razões «misteriosas» impedem a consciência solidária dos problemas sociais de cada paróquia, baseada no tratamento dos casos atendidos e visitados na sua ação social? Que razões impedem a animação local para a mobilização de recursos em ordem à procura das soluções possíveis? Que razões impedem a promoção de iniciativas não só de natureza social ou cultural mas também económica e de «desenvolvimento integral»? Que razões impedem os cristãos leigos de apresentar propostas de medidas políticas tornadas indispensáveis, face à impossibilidade de solução de problemas com os recursos disponíveis? – A experiência de «desenvolvimento local» e a da intervenção nas diferentes estruturas ainda se encontra fora do horizonte da generalidade das paróquias. A prática do diálogo social entre cristãos, mesmo com posicionamentos diferentes, a existência de grupos de ação social de serviço, a favor de pessoas mais necessitadas, e a de grupos de intervenção nas diferentes estruturas, profissionais e outras, apresentam-se atualmente como indispensáveis nas paróquias, nas dioceses e no plano nacional.

Hoje em dia, nós adultos mantemo-nos «infantilizados» perante o Natal. Portanto não amadurecidos nem suficientemente cristãos.

Talvez déssemos um verdadeiro passo em frente se começássemos a preparar-nos, desde já, para que o Natal seja diferente no próximo ano e nos seguintes…

Acácio Ferreira Catarino, sociólogo, retirado da net… publicado em Dez 21, 2007 - 12:14

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