Para uma melhor e mais rica Zona Industrial da Benedita
Breve história da Quinta da Serra/Quinta do Retiro
Beneditenses disseram acerca da Quinta da Serra -
1980, 1989, 1995-1996, 2007, 2016 e 2021.
José Luis Machado, (1980) Tempo Imemorial, Benedita e a sua
História, p. 67 refere:
«Capela da Quinta da Serra (particular)
Nos meados do séc.
XVIII, surgiu a Quinta da Serra ou do Bom Retiro, pertencendo ao Capitão
Paulo de Azevedo Cunha, o qual em 1780 mandou erigir junto à residencia uma
capela, cuja porta principal bem trabalhada, ficava do lado norte, assente
sobre um patamar com escadaria de 13 degarius.
Está bastante danificada, e algumas obras de valor (um quadro e outras peças) foram ainda não há muitos anos dali retiradas pelo seu proprietário.»
Casimiro Maria Felizardo (1989) Benedita,
quem me dera, pp21-22 diz sob o título ‘Quintas’ :
«Na Benedita só houve duas Quintas: a Quinta da Serra e a Quinta da
Cabecinha. E por aqui se depreende que a Benedita sempre foi uma terra de
minifúndio, onde reinava a pequena propriedade agrícola; portanto o espaço
agrícola era bem repartido.
As Quintas eram um
poderio económico que davam trabalho aturado a muita gente, e ainda trabalho
temporário a muita mais, como era o caso da Quinta da Serra. Ainda há 30 anos,
muitas das raparigas da Benedita, lá ganharam para o seu enxoval, etc. Visto ser o olival que predominava nesta
Quinta, por isso era a apanha da azeitona que mais trabalho proporcionava, chegando a ser contratados ranchos
de outras terras, para esse trabalho.
Essa Quinta tem o seu
historial: chegou a abranger o espaço desde o Alto da Serra, indo até à Moita
do Poço. Os seus donos foram segundo há conhecimento, a Câmara Municipal de
Santarém, Paulo de Azevedo e que depois vendeu a José Maria de Almeida e Silva,
e que depois herdou sua filha Maria Catarina Leão de Almeida e Sousa
Klerk.
Consta-se que quem
cometesse um crime e se refugiasse dentro dos portões desta Quinta seria
perdoado. Consta-se também que existe um tesouro escondido, que será de seis
malhas de xinquilho e dois paus do mesmo jogo
em ouro, que valerá atualmente várias dezenas de milhar de contos. Este tesouro
foi escondido por causa da Invasão Francesa e foi perdido o sitio.
Nesta Quinta existiu
uma pequena e linda Capela, da qual até há bem pouco tempo lá estavam as suas
valiosas ruínas, e que imprudentemente foram desfeitas.
A quinta da Serra já
não existe como quinta, pois foi desfeito o seu cariz.
Nesta quinta havia
muitos costumes vindos dos tempos antigos como por exemplo, a distribuição aos trabalhadores de legumes
secos que eram sobretudo chícharos e azeite. O pessoal dos ranchos que vinham
de fora da zona, e que dormia nas instalações da quinta, era acordado pelo
toque de corno, a tempo e horas de prepararem o seu farnel, etc. Também na
adiafa da temporada da apanha da azeitona
se fazia ‘filhoses’e festejava-se o acontecimento com um bailarico, que
atraía os rapazes cá da nossa terra. As raparigas vindas dos ranchos de fora da
terra chamavam-lhes as trongas, é uma alcunha que não gostamos de citar,
todavia era uma verdade.
E era assim uma parte
da vida da nossa principal quinta.
Na pág. 25 o mesmo autor
escreve «Serra dos Candeeiros, a nossa Serra»
«Nós, beneditenses, temos que nos
sentir privilegiados por estarmos situados à beira de uma serra, pois ao
levantarmo-nos da cama podemos deparar com um encanto de natureza que é a nossa
Serra dos Candeeiros.
Creio
que todos nós, ao estarmos habituados a ver ali aquele monumento natural, nos
sentiríamos desgostosos, se se desse o fenómeno de esta serra desaparecer. Além
de nos deliciar, esta serra serve também para nos propiciar agradáveis
passeios, tanto de carro como a pé. O carrasco, o alecrim e o rosmaninho são os
arbustos, a flora que mais a compõem, dando, portanto, uma aroma e ambiente
agradável a quem a visita.
Economicamente
a nossa serra foi outrora também de grande importância para o nosso povo. De lá
se extraía pedra para cantarias de portas e janelas, lenha, produzia-se carvão
de lenha e pastava-se o gado.
Presentemente
a nossa serra está a alimentar várias indústrias de pedra existentes na nossa
terra, que produzem lancil, estando no entanto estas explorações a prejudicar a
a feição paisagística da serra. Note-se que existe pedra nesta serra muito
própria para fazer estatuetas ou estátuas».
Ainda é feita referência à Quinta da Serra em
Fornos de Cal e Lagares de Azeite (pp. 11-12)
O Jornal PORTICO da Benedita (1995-1996) dedica
um conjunto de artigos aos lugares da freguesia assinados por
António Rebelo, Lurdes Ferreira e Anabela Gonzaga. No número onde se descreve a
Cabecinha, Casal do Guerra e Casal Carvalho lê-se «Os três lugares que vamos abordar situam-se entre a
Serra dos Candeeiros e a EN1. Apesar de serem referidos
apenas nos sécs XVII e XVIII existe entre eles uma ligação que lhes é comum: Os
caminhos de Santiago.
Há alguns anos ainda
podia ser consultado na Quinta da Serra um mapa do percurso seguido por aqueles
que, em peregrinação se deslocavam até ao grande centro cristão da Idade Média:
Santiago de Compostela. Os peregrinos orientavam-se na nossa região pela base
da serra e pelo mar, que lhes surgia no horizonte seguindo sempre para norte,
passando pelos Castelos de Porto de Mós e Leiria.
Ao longo destes caminhos foram surgindo centros de apoio
aos peregrinos, no caso na nossa região confinados aos monges de Cister, verdadeiros donos destas paragens. A
própria ‘Quinta do Retiro’, mais tarde Quinta da Serra, parece ter aí a sua
origem.[…]
Sobre o Casal do
Guerra lê-se: A sul do Casal do Guerra tinhamos a já referida Quinta do
Retiro, que em 1777 era pertença do capitao Paulo de Azevedo e
posteriormente do Sr. José Maria Almeida.»
António S. Sousa,
(2007) Benedita,
a Terra e a Gente, pp. 64-65, menciona:
«Capela da Quinta
da Serra
Vem no “Rol dos
Confessados da Parochia” o primeiro registo conhecido da Quinta da Serra. Data de 1760 e menciona aquela como “Quinta do Bom Retiro do
Capitão Paulo de Azevedo de Lima Ritta”. Tinha então um fogo com nove pessoas.
Em 1780, o seu
proprietário mandou ali erigir uma capela particular para serviço da familia,
criados e jornaleiros, integrada no complexo composto também pela residencia,
lagar, quartéis, abegoaria, celeiro, currais, etc.
A entrada principal
fazia-se por uma grande porta de madeira chapeada e trabalhada, assente sobre
um patamar que culminadava uma escadaria de treze degraus de pedra.
Ainda existia em 1980,
muito degradada e em ruinas, já sem o rcheio de maior valor, em tempo retirado
pelo seu novo proprietário. Foi mais tarde demolida e caiu no esquecimento.
Chegou até nós uma
informação meio lendária segundo a qual um precioso tesouro teria sido
escondido algures no chão desta capela. O ouro da familia teria sido
tranformado em peças semelhantes às malhas
dum jogo de chinquilho e guardadas
em local secreto. Aquele local teria sido esquecido e o tesouro nunca
mais recuperado.
A inicitiva teria sido causada por receio dos soldados franceses que
tudo saqueavam durante as invasões.»
Fernando Maurício,
(2016) partilhou
da Torre do Tombo a seguinte informação: «Paulo
de Azevedo era enfiteuta dum prazo de que era senhoria direto a câmara
de Santarém, chamado Casal do Guerra, situado no alto da serra de Rio Maior, e
que herdara de seu pai, Domingos de Azevedo, pagando em 1771 um foro de $ 180
reis. Esse casal tinha mais 20 foreiros, que no conjunto pagavam 2$511 reis,
menos do que fora com eles contratado no início, ou seja 3$770 reis.
O casal compunha-se de “algumas porções de terra cultivada, e o mais he
mato e charneca inculta...é de bastante extensão, as terras frouxas e de pouca
produção. Em 21 de Março de 1771 Paulo de Azevedo celebrou uma escritura com a
câmara, pela qual era reconhecido como
único enfiteuta, pagando um foro de 5$200 reis e passando os restantes foreiros
a subenfiteutas. Essa escritura foi celebrada pelo Dr. Manuel Filipe da Silva
com procuração de Paulo de Azevedo, assinada na Quinta do Retiro, em 11 de
Março de 1771. Neste processo do Desembargo do Paço iniciado em 9 de Março de
1772 requere-se a confirmação de escritura. O processo não continuou por motivos
desconhecidos e em 10 de Janeiro de 1787 ordena-se ao corregedor da comarca de
Santarém que informe sobre “o estado actual deste negócio”. Segue-se um
despacho sem data para que se conforrme o aforamento.
Direcão Geral dos
Arquivos, Torre do Tombo, Desembargo do Paço, Cõrte, Estremadura e Ilhas, maço
1982, proc.º n.º 87.»
João Vinagre, (2021) outro investigador beneditense, escreveu:
«A quinta do Retiro foi fundada por Paulo de Azevedo Lima
Pitta, que era filho do capitão Domingos de Azevedo Lima, de Santa Catarina e
marido de D. Perpétua da Silveira. Os Pitta eram amigos de D Maria Correia
Luciana, filha do capitão Pedro Rebelo Marques e D . Maria Correia
Trindade, moradores na quinta de Santana da Venda da Costa, e esta era irmã do
Padre Manuel Correia morador na Moita do Gavião.
A data
de 1730, da quinta da serra deve estar correcta, pois eu não
encontro menção dela de 1635 a 1700, mas encontro depois no séc. XIX, no
registo de dois baptizados a filhos do caseiro dessa quinta e cujos padrinhos
foram os donos da quinta, daí eu saber o nome deles.»
João L. Pereira
Mauricio (2021) autor de A Benedita e o Mundo Rural, pp.
221-223 apresenta o capitulo: Quinta da Serra, que refere factos
históricos e lendas a ela associados como o tesouro escondido e dá pistas
bibliográficas. Dada a extensão não é prático essa transcrição.
Apesar de não termos
um historial da Quinta da Serra como há sobre
a Quinta de Val de Ventos, que foi objeto de um estudo académico
recente, esta Quinta faz parte do nosso patrimonio coletivo e é importante
notar que estes conterraneos beneditenses não a deixaram no esquecimento nos
seus escritos. Esta realidade à beira serra, é em breve a Zona Industrial da
Benedita.
E quereremos nós
aprovar com arrogância mais uma anmésia coletiva sobre a nossa história local,
ou preferimos uma ALEB que preserve e se orgulhe dos valores que restam da
memória coletiva dos nossos antepassados, que viveram, conheceram e trabalharam
na Quinta da Serra?
Registo coligido por Lúcia Serralheiro, Benedita 6 de junho de 2021
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