Freguesia de Aljubarrota – Concelho de Alcobaça
Colaboração da JF, Clube Cultural Recreativo Moleanense e do Centro Pastoral
‘Como é bom recordar os nossos e não só! - diz Natividade Peralta...
A Rosalina Martins, interlocutora
desde o início com José Lourenço, presidente da Junta de Freguesia de Aljubarrota
desenvolveu todas as atividades conducentes ao envolvimento da comunidade na
Rota Estrada D. Maria I / D. Maria Pia e aos eventos acontecidos.
«A Estrada de Lisboa ao Porto foi
aprovada por despacho, de 4 de junho de 1792 pelo desembargado superintendente
geral das estradas, José Diogo de Mascarenhas Neto. Em memória de uma das
intenções por ela expressas no seu Alvará [art.º XVIII] onde se lê «bordar
as estradas com árvores próprias do terreno», rebordámos assim esta via pública
com uma TÍLIA (em Latim tilia tomentosa), onde já há outras, a
poucos metros da Igreja Paroquial de Moleanos. Foi plantada a 25 de março de 2023,
por Mário Lopes e Natália Severino. Houve uma simples cerimónia onde se cantou
ao som do acordeão de Rosalina e Célia Coelho declamou o poema de Florbela
Espanca:
A VOZ DA TÍLIA
Diz-me a tília a cantar: “eu sou sincera,
Eu sou o sol que vês: o sonho, a graça
Deu ao meu corpo, o vento quando passa,
Este ar escultural de bayadera…
E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça…
Trago nas mãos, as mãos da Primavera
E é para mim que em noites de desgraça
Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine” …
E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
“Já fui um dia poeta como tu…
Ainda hás-de ser Tília como eu sou…”
No dia 23.09.2023, um dos dias das Jornadas Europeias do Património, com o lema Património Vivo, uma vez mais homenageando D. Maria I / Maria Pia, bem como a toda comunidade de Moleanos e da Freguesia de Aljubarrota. fez-se a colocação de um totem junto dessa Tília, pelas 10.30 horas da manhã fez-se a colocação de um Totem integrado na Rota Estrada D. Maria I / D. Maria Pia, próximo da Igreja Pastoral e Paroquial de Moleanos. Aqui ficam testemunhos escutados na recolha de memórias para esta Rota.
‘Entrei
na Associação do Salão Paroquial de Moleanos de Aljubarrota para tomar um
cafezinho com uns amigos, e falámos sobre esta Rota Estrada D. Maria I / D.
Maria Pia. A Natividade Peralta, que estava no atendimento, começou por dizer: “A
minha bisavó, Antónia Natividade, chamavam-lhe a ‘TI ANTÓNIA’ e faleceu aos 97
anos.
Era carteira da mala posta e o seu transporte era uma mula. Ela ia buscar o correio a Chiqueda de Baixo, numa lojinha que vendia de tudo, até bens alimentares, mas que também era taberna, a taberna do António Inácio, “O Regedor da Aldeia”. Antigamente era assim o Regedor e o Padre é que mandavam na Aldeia. «Feliz, ela disse: - Como é bom recordar os nossos e não só!’
Natividade
Peralta
‘Neste espaço, também chegou a ser um Lagar de
azeite, do Sr. José Militar de Alcobaça, empresário deste Concelho na década de
60/70. Ainda me lembro bem disso. Quando eu saía da escola ia muitas vezes para
casa dos meus avós, Maria Emília e José António Santos, e eles contavam:
“quando os tropas passavam de uns quartéis para os outros a pé, por esta
Estrada Maria Pia, atendendo a que, a Estrada estava em muito mau estado e por
baixo da mesma passava uma linha de água, o superior deles dizia: - Ó rapazes,
passemos depressa, que se isto abater, morremos afogados!’
José
Henrique (Zico)
‘Ainda se lembra deste episódio, entre as memórias de seus avós: Joaquim Lourenço e Maria Peralta. As pessoas dos lugares cortavam os matos das terras e colocavam-no na Estrada para ser pisado pelos animais e pelos carros de bois. Quando o mato estava em estrume era apanhado e colocado nas terras, como fertilizante’
José
Lourenço
‘Já naquela época, foi com uma carta feita à autarquia, pelo meu familiar de José Eduardo Paulino, mais conhecido por filho do Sr. Ginja., para que passasse a haver no lugar um autocarro. O transporte dos habitantes era de burro e carro de bois e uns deslocavam-se a pé para irem ao mercado a Alcobaça. Esse pedido foi aceite. Passou a haver uma camioneta um dia uma vez por semana. Era a empresa d‘OS CAPRISTANOS’ e a Estrada era em terra batida com muitos buracos’.
Isabel
Paulino
No grupo, Zico, Mário Lopes, Isabel Paulino, Natividade Peralta e José Lourenço, sorriam todos com muita vontade de falar, e alguém disse:
‘Ainda sou do tempo em que a ceia era a refeição da noite, a que agora chamamos jantar. O jantar era a refeição do meio do dia, a que agora chamamos almoço era servida cerca das duas horas da tarde’.
Foi
feita uma pesquisa, ouvindo a voz da população, da cultura e dos seus valores
de passados de geração em geração, adaptados à época, dando continuidade ao
antigamente, recreando as suas culturas, dando conta das mudanças das paisagens
e dos lugares que habitam. À beira desta Estrada D. Maria I / Maria Pia e junto à nova igreja existe a
primitiva capela, dedicada a Nossa Sra. da Piedade, que é o orago desta
localidade de Moleanos. Na sua fachada há duas datas que
nos levam a outros tempos e a outras interrogações: F. 1785. C. 1896.
Na empresa de pedra Luís da Graça, hoje Sousa e Catarino, transformavam a pedra em mós para azenhas, monumentos e castelos, nesta serra de Candeeiros. Tal como antigamente faziam ‘mós há anos’. História ou lenda, diz Nelson de Sousa que o avô paterno de sua mulher, João Vivencio, falecido com 90 anos e pai de Luís da Graça, contavam que era daí que surgiu o nome de Moleanos.
Algumas pessoas de Évora e de Aljubarrota disponibilizaram-se em dar o seu testemunho, juntando as duas freguesias num painel único no Programa ‘Publicamente’ de Piedade Neto na Rádio Cister, 95. 5 FM Alcobaça, no dia 16 de setembro de 2023. Foi o mesmo repetido no dia 18. Por lá passaram também temas aqui referenciados, nesta celebração europeia do Património Vivo, das nossas heranças comuns, como esta Estrada, que ainda hoje utilizamos apesar da sua já longa vida.
Rosalina
Martins
Moleanos de Aljubarrota – 23.09.2023 – Inauguração do Totem
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