Todas as pessoas conhecem a mais antiga casa aberta ao público da Benedita. Fica no centro e tem uma esquina da rua principal para a rua que abraça a norte praça Damasceno Campos, outrora o mercado dominical, depois de nos anos cinquenta, ter deixado de ser a cerca da Dona Raquel Almeida. E já nesses temos era «OS CARMOS»! Fundada pelos antecessores da família de António do Carmo (1917-1984), que em criança se vê na foto exposta no interior, é atualmente do seu filho António José.
E por que razão estamos n’ «Os Carmos» a lembrar o Zito? Porque aqui. Neste café o beneditense jornalista, poeta, ilusionista, etc, etc, teve um lugar cativo!
«Os Carmos», no início eram um espaço de taberna, onde aos domingos se assava o peixe dos fregueses, se contavam histórias bem regadas com uma pinguinha… entre elas as da Grande Guerra e o lugar onde vinham centenas de carros de bois carregar os adubos para a agricultura…e onde também ao lado, havia uma barbearia… tudo bons locais de conversas…
Depois foi mercearia, pensão e restaurante, café moderno com posto de telefone público! Lá paravam as carreiras onde embarcavam quem tinha de deslocar, se esperavam visitas, se descarregavam encomendas e se faziam os despachos de outras. Lá se compravam os jornais e revistas, se jogava no Totoloto, se sabiam e comentavam as novidades. Com o aparecimento da televisão, povoou-se, a pouco a pouco a clientela de miúdos e mulheres, exceto na Cova Funda, na profundeza da cave, reservadas as noitadas apenas a alguns graúdos….
Quanta história dos ‘tempos imemoriais’ por aqui passou e se armazena nas paredes e mobílias desta casa. Na frente da rua principal era montado o cenário das 3 Marias e o púlpito do padre que fazia o Sermão do Encontro na Semana Santa. Na parede exterior da esquina assentavam arraiais as pinhoeiras das festas de Santa Maria e do São Brás, que o Zito tão bem descreve no jornal «O Alcoa». Sempre há e houve observadores a ela encostados… e no canto interior junto à janela, recorde-se a silhueta do jornalista ZITO, que lá passava muito do seu tempo lendo e escrevendo… E ele deixou-nos entre outras poesias, este poema que o confirma. Por isso aqui estamos hoje a recordá-lo no Dia da Vila, 16 de maio de 2019, nos 35 anos desta efeméride, para a qual investigou e passados que são, 25 anos da sua morte.
É dele o trabalho de investigação e divulgação para que a nossa terra alcançasse este patamar! Estará sempre presente na memória dos beneditenses bairristas!
FORUM TERRA MÁGICA DAS LENDAS, CRL
POEMA INACABADO
HOJE, COMO ONTEM, FUI AO CAFÉ.
SENTEI-ME NO LUGAR DO COSTUME
E, COMO DE COSTUME, MANDEI VIR
UMA BICA E UM JORNAL,
A BICA VEIO MAS O JORNAL NÃO,
É QUE ONTEM FOI FERIADO.
LEMBREI-ME, ENTÃO, DE ESCREVER UM POEMA.
A MINHA CANETA ESTAVA SECA
E LÁPIS NÃO TINHA, (QUE IMPORTA SE A POESIA VINHA?)
PUS-ME A SONHAR
E SONHEI ACORDADO
- O QUE SONHEI?
JÁ NEM ME LEMBRO…
SEI SOMENTE QUE LOGO QUE ACORDEI,
O POEMA FICARA INACABADO.
José Luís Machado (Zito), Voz no Tempo, poemas. ed. de autor, Benedita 1979
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