Homenagem aos nossos mortos pelo Covid

 «Hoje é dia de todos os santos: dos que têm auréola

e dos que não foram canonizados.

Dia de todos os santos: daqueles que viveram, serenos

e brandos, sem darem nas vistas e que no fim

dos tempos hão de seguir o Cordeiro.

Hoje é dia de todos os Santos: santos barbeiros e

santos cozinheiros, jogadores de football e porque

não? comerciantes, mercadores, caldeireiros e arrumadores (porque não arrumadoras? se até

é mais frequente que sejam elas a encaminhar o espectador?)

Ao longo dos séculos, no silêncio da noite e à

claridade do dia foram tuas testemunhas; disseram sim/sim e não/não; gastaram palavras,

poucas, em rodeios, divagações. Foram teus

imitadores e na transparência dos seus gestos a

Tua imagem se divisava. Empreendedores e bravos

ou tímidos e mansos, traziam-te no coração,

Olharam o mundo com amor e os

homens como irmãos.

Do chão que pisavam

rebentava a esperança de um futuro de justiça e de salvação

e o seu presente era já quase só amor.

Cortejo inumerável de homens e mulheres que Te

seguiram e contigo conviveram, de modo admirável:

com os que tinham fome partilharam o seu pão

olharam compadecidos as dores do

mundo e sofreram perseguição por causa da Justiça

Foram limpos de coração e por isso

dos seus olhos jorrou pureza e dos seus lábios

brotaram palavras de consolação.

Amaram-Te e amaram o mundo.

Cantaram os teus louvores e a beleza da Criação.

E choraram as dores dos que desesperam.

Tiveram gestos de indignação e palavras proféticas

que rasgavam horizontes límpidos.

Estes são os que seguem o Cordeiro

porque te conheceram e reconheceram e de ti receberam

o dom de anunciar ao mundo a justiça e a salvação»

Maria de Lourdes Belchior


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