Vossa
Excelência têm por missão respeitar a
identidade deixada pelos nossos antepassados
salvaguardando as nossas memórias coletivas.
A
existência de um complexo reservado à implementação de indústrias ou empresas,
não é incompatível com a presença de um edificado histórico, que transporta em
si a memória e o espírito do lugar.
Por
isso, e pondo em prática as palavras da nossa Presidente de Junta de Freguesia,
em entrevista ao jornal “Gazeta das Caldas” de 29.04.2021: «as pessoas da
Benedita “são muito dinâmicas” e estão treinadas para procurar soluções, onde
outros só vislumbram problemas […] as gerações anteriores olharam para as
necessidades da população. Foi isso que fez a Benedita. As pessoas pararam,
analisaram, e perceberam as necessidades ao nível da educação, indústria e
todas as áreas. Depois, fizeram obra.», vimos, por este meio, solicitar o
empenho de toda a Vossa equipa na
preservação do restante edificado da Quinta da Serra, para que um dia mais tarde, não tenhamos de
lamentar o seu desaparecimento, como fazemos hoje em relação à sua capela
barroca do séc. XVIII, da igreja matriz da Benedita, séc. XIII, dos tanques
onde se lavava a roupa na Fonte da Senhora, do mercado dominical, da feira dos
Seis, séc. XX, etc, etc...
E nós,
Terra Mágica das Lendas, lembramos os
milhares de pessoas que lá trabalharam ao longo de mais de 300 anos. Há
sobre uma porta do lagar um letreiro com a data de 1730. Ao lado existe a
‘chavanca’ e um acesso com uma porta notável. Mais a norte, uma enorme eira.
Para a direita, a casa dos caseiros, a queijaria, o pombal, o celeiro, e os barracões dos animais e alfaias.
Cereais, azeite, olivais e pinheiros, sustentavam a azáfama agrícola de todo o
ano. Resineiros de Porto de Mós, montaneiros de Pataias carregavam samas dos
pinheiros para os seus fornos de cal, que também os houve cá. Lá
existiam ‘as rendas’, parcelas de terrenos alugadas a pobres para tirarem seu
sustento. Diz-se que o primeiro dono foi a Câmara de Santarém. Essa palavra
lê-se na pedra, onde se inscreveu “ANNO 1730” testemunho de longa vida. A. Rebelo, publicou no “Pórtico”, que esta
quinta era ponto de apoio aos peregrinos de Santiago de Compostela.
Em
breve, a Benedita vai comemorar 500 anos de existência. Desconhecem-se aqui
outros edificados tão antigos. Todos lamentam a demolição da Igreja Matriz em
1962. Está na altura da Benedita refletir como tem tratado o legado dos nossos
antepassados.
A
construção da ALEB,- Area de Localização Empresarial da Benedita é um
investimento público. Temos o dever e o direito de deixar esse legado e suas memórias
às gerações vindouras. Por isso, reforçamos que a existência de uma zona
industrial na Benedita com uma reserva do património protoindustrial, deve ser
tida em consideração pelos nossos autarcas, pois irá pontuar o dinamismo
empresarial da Benedita, olhando o futuro com orgulho no passado.
Reiteramos as nossas preocupações com a nota da geóloga
Beneditense, Sandra Lourenço:
«Desta forma, a Benedita estará não só em
sintonia com a Convenção de Faro como perpetuará os seus genes empreendedores e
visionários.
A Benedita consegue mais, consegue fazer algo que a
distinga. É possível recuperar e revitalizar aquele espaço tão antigo e
enquadrá-lo numa área próxima do industrial. Será que faz falta à Benedita uma
zona industrial como tantas outras espalhadas por esse Portugal, (muitas delas
vazias), e não faz falta uma zona onde se possa ter acesso à cultura, à
natureza, à história, ao comércio, serviços, e também à indústria?
Seria mais interessante ter uma zona industrial
completamente descaracterizada da história da Benedita que, ainda por cima,
para existir, tem que destruir características "personalizantes" da
Benedita, ou será mais interessante ter um espaço versátil, que permita à
população ter acesso à sua história, desenvolver a sua criatividade (porque não
uma área com ateliers?), ou mesmo poder criar eventos
à beira da Serra?”
Fórum Terra Mágica das Lendas,
CRL, Lúcia Serralheiro, Benedita 11 de
Maio de 2021
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