Na freguesia da Benedita, anos 60 e 70, toda a gente conhecia o Padre Serrazina e Acácio Catarino. Nos anos 80 e 90 deram continuidade com os seus esforços para que os apoios estatais não falhassem ao Externato Cooperativo, nunca deixando de ajudar esta terra, que os viu nascer. Como todos os seminaristas ajudavam a paróquia nas férias e organizavam récitas teatrais. Acácio não tinha jeito para o palco, fazia sempre de ponto. Mas cantava muito bem e para a missa nova do padre Fernando ‘Patareco’ foi por este escolhido para ensaiar os cânticos. Após a sua saída do seminário sofreu o estigma preconceituoso da época e escreveu o livro: O ex-seminarista um renegado? Essa experiência sobre a qual procurou as palavras para se ‘dizer’ aos outros, encarando-se em si mesmo, foi uma atitude constante na sua vida. Sociólogo, especializou-se na área económico social tendo desempenhado vários cargos a nível governamental e foi presidente da Cáritas durante 17 anos.
Apesar da sua vida familiar ter sido na área de
Lisboa, esteve sempre presente na sua terra assumindo cargos em órgãos sócias.
Acaba de deixar vazio o de presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da
Misericórdia da Benedita. E não foi só nesses cargos que interagiu com a sua
comunidade de pertença. Deixou-nos muitos escritos, entre eles artigos na
imprensa local, n’O Alcoa’, ‘Região de Cister’ ambos de Alcobaça e no jornal
quinzenal ‘Pórtico’ na Benedita, onde durante todos os nove anos da sua
existência, estabeleceu um diálogo com todos os leitores: em 21.05.1998 num artigo sobre Bento de Jesus
Caraça pode ler-se:‘É desejável que cada pessoa, em cada situação,
desenvolva a sua cultura. Ser culto é diferente de ter conhecimentos.’ Fundamentou
as suas ideias sempre em fontes rigorosas: Constituição Portuguesa, leis
do trabalho e no PRR- Plano de Recuperação e Resiliência. Articulava-as os
conceitos humanistas internacionais, da OIT - Organização Internacional do
Trabalho. Defendeu a erradicação da pobreza e o pleno emprego.
Um dia, perguntei-lhe se tinha conhecido a Dra.
Manuela Silva, figura tão importante no Desenvolvimento Comunitário da
Benedita. Ele disse que só a conheceu anos mais tarde, depois do 25 de abril,
em Paris, numa reunião internacional onde ele estava representando Portugal
pela OIT. Para mim foi ainda novidade a sua importância a nível internacional
lendo uma nota de pesar em inglês, na
página online da Companhia Internacional de Desenvolvimento - CESO, de que era
membro e que providencia assistência técnica relacionada com o desenvolvimento
organizacional, social e económico.
Nunca deixou de lado a Benedita. Apoiou as
instituições e associações locais, por exemplo, o Fórum Terra Mágica das
Lendas, CRL, na defesa do património edificado da Quinta da Serra como elemento
da nossa Comissão de Honra. Por isso ‘peregrinámos’ no dia 12 em sua homenagem ao Museu da
Presidência da República no Palácio de Belém inaugurado em 2005 por Jorge
Sampaio de quem foi assessor na área social. Como nos falou a guia, o cargo de
presidente da República é o único no país onde votamos numa só pessoa que
depois representa todos os portugueses, ao contrário de outras eleições onde
votamos em listas de nomes para cargos de equipas. Também tivemos nesse dia e hora oportunidade
de nos despedirmos de Jorge Sampaio esse
extraordinário Presidente que teve junto de si também um extraordinário
beneditense. Depois continuámos a nossa peregrinação de homenagem aos nossos
falecidos, Manuel Pina, melhor, ‘o Sporting’ apoiante da Terra Mágica que nos
deixou um dia, após Acácio Catarino e ‘com ele’ fomos até ao Museu do Sporting
apreciar como sem uma equipa e sem fãs não existíamos tão felizes. Acreditamos
que também Jorge Sampaio nos apoiou neste itinerário. Às famílias enlutadas as nossas sinceras
condolências.
Lúcia Serralheiro, pelo Fórum Terra Mágica das Lendas, CRLBenedita 13. 09.2021
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