A Terra Mágica das Lendas divulga a Banda da Sociedade Filarmónica Turquelense no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2021
Uma parceria com a
Rádio Benedita FM 88.1
Transcrição da
entrevista na Rádio por Teresa Bento a Filipe Rebelo, presidente da direção da
Sociedade Filarmónica Turquelense e a Lurdes Costa presidente nos anos 90
Entrevista à Banda da
Sociedade Filarmónica Turquelense
Teresa Bento - Hoje, dia 27 de setembro, vamos escutar a
história da Sociedade Filarmónica Turquelense, contada pelos nossos convidados.
Muito obrigado pela vossa presença.
Boa
tarde srs. ouvintes, eu sou a Teresa Bento e venho de Turquel para falar hoje
na Benedita FM no âmbito das Jornadas Europeias do Património, que este ano são
dedicadas ao tema Diversidade e Inclusão.
Temos connosco à conversa a Sociedade Filarmónica Turquelense, aqui representada
pelo atual presidente da direção, Sr. Filipe e a Sra. D. Lurdes Costa, que fez
muitas atividades culturais na freguesia de Turquel e que já foi
vice-presidente na Banda de Alcobaça e presidente da Banda de Turquel. Muito
boa tarde, sejam bem-vindos.
Então,
vamos contar um bocadinho da história da Sociedade Filarmónica Turquelense,
citando do seu livro: «A sociedade Filarmónica Turquelense é
uma das muitas associações nascidas durante a primeira vigência da Primeira
República em Portugal. Foi fundada a 1 de dezembro de 1913, embora a ideia
tenha nascido de vários turquelenses, foi José Diogo Ribeiro, professor,
etnográfico e folclorista que proporcionou os meios, deu corpo ao projeto,
tratou da aquisição dos instrumentos e orientou a fase inicial, quer no aspeto
administrativo e de organização, quer usando da sua influência para dar crédito
ao projeto. O Sr. José Diogo cedeu o espaço no seu celeiro para os primeiros
ensaios e incentivou o seu filho Cláudio Ribeiro e o sacristão da época,
Joaquim Paulo, a ministrar as aulas de música que rondaram cerca de um ano após
as primeiras reuniões que decidiram a fundação. A primeira apresentação pública
foi a 1 de dezembro de 1914, sob a regência de Joaquim Paulo. Nas décadas de
30, 40 e 50, a banda foi crescendo em qualidade e prestígio, chegando a ser
umas das mais apreciadas na região. Em meados da década de 40, nasceu a Casa da
Música, que desde a sua fundação e até aos nossos dias, tem-se mantido
praticamente sempre em atividade, sobrevivendo a várias revoluções e guerras
que arrastaram muitos jovens turquelenses, sendo que muitos foram obrigados a
emigrarem. O dom da música tem passado de geração em geração, há famílias
inteiras a executarem, pai, mãe, filhos, avós e netos. Nota-se que o povo desta
terra possui um ouvido para a música. Atualmente vive-se uma fase de renovação
e acompanhamento das novas tendências destes agrupamentos, mantendo-se
paralelamente uma escola de música, um pequeno grupo autónomo de teatro, o
sonho de um canal e alguns grupos de musicais de geração espontânea,
aproveitando os conhecimentos adquiridos na velhinha Sociedade Filarmónica
Turquelense»
Hoje
acompanha-nos aqui o Sr. Filipe Rebelo, atual presidente da direção da
Sociedade Filarmónica Turquelense e um músico executante em atividade mais
antigo desta associação.
Teresa
- Sr. Filipe Rebelo, quando é que começou a dedicar-se à música?
Sr. Filipe – Mais ou
menos em 1977, tinha 19 anos. Fui convidado pelo meu cunhado, Manuel Alves, que
tinha ingressado naquela data na Banda da Armada. Aconselhou-me e segui música.
E
como é que foi a sua integração na Sociedade Filarmónica Turquelense?
Sr. Filipe – Com 20 anos,
foi ótima, acarinhado por todos os músicos, alguns já eram meus conhecidos, mas
nunca tinha tido contacto com a música ou com músicos. Antes disso fazia parte
do Coral da Igreja, mas não conhecia música.
Qual
foi o seu primeiro instrumento?
Sr. Filipe – Trompete,
executei trompete até há três anos. Depois por dificuldade oral mudei para
trombone de varas, era mais adequado.
Antes
de começar a tocar o instrumento teve de aprender as noções básicas da música,
as notas, certo? Aproximadamente quanto tempo levou até iniciar com o
instrumento?
Sr. Filipe – Claro, eram
ensinadas nesse tempo pelos mestres, não haviam professores de música, além do
maestro, eram os mestres que ensinavam e aprendi com facilidade.Penso que
talvez um ano, penso que saí em 78 e comecei em 77 a aprender música, mais ou
menos um ano.
Teresa
- Atualmente é esse o tempo que leva um jovem ou alguém que queira aprender a
música?
Sr. Filipe – Depende da
aptidão de cada um. Hoje começa-se de muito mais novo, com 6, 7, 8, 9, 10 anos.
Aprende-se de maneira diferente, o ensinamento é muito diferente e com
conhecimentos muitos mais profundos, por isso os executantes têm muito mais
capacidade de ler e executar bem, com mais gosto do que antigamente.
Teresa
- Sr. Filipe, tem instrumento próprio ou o instrumento é da Filarmónica?
Adquiri o meu instrumento
passado 10 anos, toquei 10 anos com o instrumento da Filarmónica, depois tive a
oportunidade de comprar um.
Teresa
- Depois entra a sua família, a sua esposa já foi música, as suas filhas
também, fale-me um bocadinho da importância da música na sua vida e na vida da
sua família.
É aliciante, a minha
esposa começou a aprender música mais ou menos quando eu comecei, depois saiu
um ano mais tarde. Fizemos todo o percurso de namoro na Filarmónica e saiu após
o nascimento da minha filha mais velha e não regressou.
Teresa
- Neste caso já vai com mais de 43 anos de atividade na Sociedade Filarmónica
Turquelense, já passou por várias fases da banda. Pode-me dizer quais foram os
motivos que o levaram a ser o atual presidente da Sociedade Filarmónica?
Sr. Filipe – Eu era
presidente da Assembleia Geral, entretanto o meu presidente da altura, era
bombeiro voluntário e assumiu o cargo de bombeiro profissional na Nazaré er
passou a ter menos tempo para a Filarmónica e havia algumas coisas que não
estavam tão bem quanto eu entendia e chegámos à conclusão de ele se demitir. Convidaram-me
a fazer parte da direção e fi-lo com muito gosto.
Teresa
- Mais um pouco da história da Sociedade Filarmónica Turquelense. «No início da
década de 50, surgiu uma comissão de melhoramentos que se propôs a erguer uma
casa que de uma só parada pudesse satisfazer os requisitos para a realização de
vários eventos culturais, bailes, festas e espetáculos. Essa comissão era
constituída inicialmente por vários elementos e curiosamente para a época com a
maioria do género feminino, ou seja, as mulheres sempre tiveram um papel, em
Turquel, muito importante nesta Sociedade Filarmónica.»
Também
hoje aqui connosco está a Sra. D. Lurdes Costa, que teve um papel fundamental
nesta filarmónica, liderando num período de grande crise e foi a primeira
mulher na direção e logo como presidente! Sra. Lurdes Costa, obrigada por ter
aceite este nosso convite.
Teresa
– Sra. Lurdes, como foi a sua entrada para a Banda Filarmónica Turquelense?
Sra. Lurdes – Foi
simples, convidaram-me e eu aceitei, convidaram-me para assumir e aceitei de
boamente. Já vinha da Banda de Alcobaça com alguma experiência e gostava de
música e aceitei. Lançámos vários projetos e foram para a frente na medida do
possível e quando disse que a iniciativa da primeira comissão foi de mulheres,
eu já tinha reparado, já tinha pensado que foi muito importante essa comissão,
porque as eram mulheres novas. Portanto, nos anos 50 foi quando pensaram em
fazer a construção da casa e foi um grupo que se juntou, 18 homens e 15
mulheres, mas nenhuma mulher com 20 anos, todas com menos de 20 anos, foi muito
interessante e ainda são vivas algumas dessas mulheres, temos por exemplo a
Maria da Graça, a Maria Olinda, a Maria de Jesus Moreia, a Beatriz, estas são
vivas ainda, por isso quer dizer que na altura elas nem 20 anos tinham, porque
estas mulheres talvez estejam hoje na casa dos 90 anos, se é que estão. Nos
anos 50, foram elas a comissão organizada de trabalhadores que dizem até que
fizeram litros, muitos litros de café que venderam, muitos quilos de filhós que
fizeram, muitos artigos para a quermesse, e a casa foi feita com esta comissão
e com a ajuda do povo de Turquel. Era uma altura difícil e, no entanto,
arranjaram dinheiro com as ajudas todas, e estas mulheres colaboraram, o que é
muito interessante. Estas 15 mulheres, todas novas e tanto que trabalharam para
assegurarem e construírem a casa. Foram um exemplo, estas mulheres nos anos 50
e anos mais tarde que puderam dar a mão e colaborar.
Teresa
- Quando ingressou na Sociedade Filarmónica Turquelense, quais é que foram as
maiores dificuldades que encontrou?
Sra. Lurdes – Não tive,
não tive dificuldade. Nós planeamos, projetámos e cumprimos, e correu tudo
muito bem. Logo de início, quando eu entrei, planeámos fazer um primeiro
encontro de bandas. Eu entrei em 93 e em 94 fizemos o primeiro encontro de
bandas, foi muito lindo, muito lindo e muito importante. Porque nós recebemos
as bandas no cruzamento da escola de Turquel. Havia três caminhos e de cada
caminho saiu uma banda convidada, a nossa banda recebia-as no palco, no Largo
Amélia Guerra, no sítio onde era antes a hóquei inicial. Aí tínhamos o palco
onde recebemos aquelas bandas. Tivemos ‘filhoses’, tasquinhas, e tivemos até um
forno natural a fazer bolos. Foi muito bonito, foi muito importante aquele
encontro.
Teresa - Sra. Lurdes em
que anos é a que a senhora esteve como presidente da sociedade filarmónica
turquelense?
Sra. Lurdes – Foi dos
anos 93 a 98.
Teresa
- O primeiro encontro de bandas, foi o primeiro de vários que depois se
sucederam, como é que foi, quantos encontros de banda fizeram?
D. Lurdes – No meu tempo
fizemos dois encontros. Fizemos um encontro em 94 e fizemos um encontro em 96 e
todos anos tínhamos algo de especial, um programa especial. Em 94 foi o tal
encontro de bandas, no ano de 95 a banda foi tocar à missa de Turquel, à missa
do meio-dia. Foi um dia de música e de trabalho, depois tiveram uma atuação no Largo
do Pelourinho e à noite na sede. Portanto, esta foi a iniciativa, o programa de 95. Em 96 voltámos a ter o segundo
encontro de bandas, e veio até uma das bandas da Carris de Lisboa, mas não
tinham carros para virem e tivemos de escrever uma carta à Câmara Municipal de
Alcobaça a pedir transporte para ir a Lisboa buscar aqueles grupos de jovens
que vinham tocar. A Câmara Municipal de Alcobaça é que foi buscar e levar os
músicos, porque apesar de serem da Carris não tiveram carro para vir! Este foi
o segundo encontro de bandas em Turquel. Depois em 97, tivemos o Baile da
Saudade, quer dizer, em cada ano tivemos algo de especial. E ao longo do ano
íamos tendo algumas atividades, mas assim de especial, em cada ano tivemos uma.
Teresa
- A que se deve a saída da Sra. Lurdes?
Sra. Lurdes – Não sei,
pura e simplesmente já tinha ali cumprido quatro anos e portanto a minha vida
também não dava para tanto, porque eu era empresária e tinha também de tomar
conta da minha empresa e nestas atividades, eu perdi muito tempo, perdi muito
tempo se é que se pode chamar perder, dediquei-me um bocado.
Teresa
- Mais um bocadinho de história. «Na década de 50, saem 5 jovens, todos irmãos
e resolvem organizar uma orquestra de baile e de animação em geral, com o nome
“Os Corvos – Irmãos Vicente” Este agrupamento musical realiza sessões em todo o
país ou realizava sessões em todo o país, afirmando os seus créditos pela
qualidade da música, por repertório próprio e música portuguesa, os mais
antigos todos conhecem os Irmãos Vicente que abrilhantavam os bailes, as
festas, as romarias, eram realmente um conjunto muito famoso.» Eu ainda tive o
prazer de os conhecer, depois deram lugar a outros grupos, mais tarde
dedicaram-se à compra e venda de instrumentos e todo este trabalho vem de uma
passagem pela Sociedade Filarmónica Turquelense.
Teresa
- Sr. Filipe, qual seria o motivo da saída destes 5 irmãos que foram formar uma
orquestra, o que me diz sobre isso?
Sr. Filipe – A banda de
Turquel e outras bandas, tiveram sempre o carisma, ter ouvido falar nesses anos
40, 50 e até antes, o cariz de alguns músicos mais salientes fazerem grupos
musicais, juntarem-se, chamavam-se “As Laironas”, que são as músicas que não
têm principio, nem fim, refrões de músicas conhecidas pelo povo. Estes músicos,
estes 5 irmãos salientaram-se mais e organizaram-se e muito bem. Eram
excelentes músicos. Havia ao mesmo tempo outro grupo com outros músicos, nunca
se organizaram tão bem, mas nunca deixaram de ser excelentes músicos e também continuaram
à mesma, músicos na Filarmónica. Ainda hoje, não têm nada a ver com esta
organização, mas ainda hoje, eu por exemplo, agora neste tempo de pandemia não,
mas há dois anos reuni sete músicos, fizemos umas músicas de natal pelas ruas
de Turquel. Pelo carnaval, fizemos mais umas músicas de carnaval pelas ruas
também, são aquelas músicas que quase não têm começo, nem têm fim. Toda a gente
toca e toda a gente gosta de tocar, isto a banda de Turquel teve sempre este
cariz e outras bandas também têm alguns músicos mais salientes e foi um bocado
isso, aqui como eram irmãos, organizaram-se perfeitamente.
Teresa
- Que outros músicos já fizeram carreira musical tendo por base os ensinamentos
da Filarmónica Turquelense e que são conhecidos?
Sr. Filipe – São o Sr.
Manuel Alves, foi músico da Armada. Neste momento é aposentado e foi maestro na
banda de Turquel, precisamente quando a Sra. Lurdes foi presidente, Comigo
também na direção temos a nossa professora e diretora técnica da escola de
música, a Susana Ezequiel, também aprendeu na nossa Filarmónica e neste momento
faz vida profissional com os ensinamentos dados na banda Filarmónica Turquelense.
Teresa-
Eventualmente, alguns jovens que foram para a tropa, exerceram música?
Sr. Filipe - Sim, alguns
foram cornetins, é muito bom aprender música sempre. A minha filha mais nova,
por exemplo, também andou na banda, tem o curso integral de trompete, mas
depois foi para a universidade e saiu, mas fez parte da tuna universitária
enquanto esteve na universidade e ainda continuou mais 1 ou 2 anos, mas agora
deixou.
Teresa
- Sr. Filipe, como membro mais antigo desta banda, qual era o reportório de músicas
nos anos 70, 80 e 90?
Sr. Filipe – Era mais à
base de rapsódias portuguesas, era tudo escrito por compositores portugueses,
mas mais à base de rapsódias, à margem de concertos. O repertório era um
bocadinho diferente do que é hoje, agora é quase um repertório de orquestra. Mesmo
as orquestrações são feitas de maneira diferente. Hoje é tudo diferente do que
era nesse tempo, a maneira de ouvir, a maneira de executar, é um pouco
diferente do que era. Era maravilhoso ouvir a banda naquele tempo e é maravilhoso
ouvir a banda neste tempo atual.
Teresa-
Quais eram os vossos serviços obrigatórios, festas, romarias, procissões, qual
era o trabalho da banda? Sei que era muito, eram todos os fins de semana ou
quase.
Sr. Filipe – A banda até
aos anos 80, tinha um papel mais forte nas localidades e nas festas do que tem
hoje. As festas, normalmente, as pessoas não eram empregadas, as festas eram
feitas no dia próprio, fosse a que dia fosse da semana. Eu só conheço duas
comissões de festas que continuam com as festas nos dias de semana, é a de Alfeizerão
com o Santo Amaro e a da Gançaria com a Nossa Senhora da Saúde. São as únicas
que eu conheço na nossa redondeza, as outras passaram todas para os fins de
semana mais próximos. Nesse tempo a banda de Turquel fazia 30 a 40 serviços por
ano, eram os fins de semana todos e mais alguns dias por semana e as pessoas
dedicavam-se a isso. As festas tinham muito mais oferta do que têm hoje, porque
as pessoas canalizavam a esmola durante todo o ano para dar para o santo
naquele dia. Ora, as comissões de festa tinham muito mais poder monetário e
podiam pagar muito melhor às bandas, tudo isso se perdeu. A banda passava a
fazer o peditório e 90% das pessoas vinham à porta, hoje a banda passa a fazer
o peditório, só 10% das pessoas é que aparecem, umas não estão, outras não
aparecem, nota-se que não há o interesse que havia nesse tempo.
Teresa
- É caso para dizer que a música agora é outra… Os músicos eram todos de
Turquel, tinham mão-de-obra que chegasse para constituir a filarmónica, como é
que se processava o grupo?
Sr. Filipe – Sempre
houve, para serviços de mais responsabilidade, sempre houve a aquisição de
músicos pedidos ou comprados, convidados, como queiram entender, mas eram
precisos, quando os do quadro não chegavam, quando não haviam músicos
suficientes para reforçar os quadros que eram precisos para a banda executar
bem o trabalho que tinha para fazer.
Teresa
- Quando é que entra a primeira mulher para a Filarmónica. Lembra-se?
Sr. Filipe – Não me
lembro porque entrou primeiro que eu, mas foi mais ou menos no meu tempo que a
primeira mulher para a Filarmónica entrou em 1976/77. Foi a Cila Vicente, filha
do Silvestre Vicente. Depois em 77/78, entrou a Alda Alves, a Delmira Tinta e
em 78/79, entrou a minha mulher, Zita Alves, depois a partir daí começaram a
entrar muito mais mulheres.
Teresa
- Os maestros têm e sempre tiveram um papel fundamental na estrutura do grupo
musical, fale-me de alguns que se lembre e que tiveram impacto na Sociedade
Filarmónica Turquelense?
Sr. Filipe - Eu não
conheci o Sr. Avelino Lopes, mas sei que foi um executante clarinetista bom e
depois foi maestro da banda nos anos 60. A banda esteve em crise também, foi
umas das primeiras crises que a Filarmónica teve e ele é que pegou na banda
nesse tempo e ajudou a que a banda sobrevivesse sem que tivesse parado. Depois
o Sr. Silvestre Luis em 1984 e depois o Sr. Manuel Alves em 1992. São três
maestros de Turquel que passaram pela banda de Turquel.
Teresa
- Temos algum compositor que faça músicas de propósito para Turquel, há algumas
músicas só de Turquel, como é que é?
Sr. Filipe – Turquel tem
muitas músicas, o Sr. Manuel Vicente escreveu muitas músicas, o Sr. Silvestre
Luís também escreveu algumas, mas orquestradas para a banda há poucas, tem duas
ou três, não muitas. Como compositor, temos o atual maestro Manuel Pascoal, que
é compositor residente da banda da Armada desde a alguns anos. Neste momento
estamos a executar várias peças escritas por ele. Da autoria dele para Turquel
já compôs um trecho de Manuel Vicente e tem em mãos dois trechos para compor
para nós começarmos a executar.
Teresa
- Neste momento temos um corpo musical mais moderno em termos de reportório,
até de músicas. Que idades têm os nossos músicos executantes?
Sr. Filipe – Executantes
temos… portanto eu tenho 63 anos e há dois que têm mais idade do que eu e os
outros têm todos menos, portanto a minha filha tem 35 anos e é música há 22 anos.
Teresa
- Podemos dizer, então, que a banda tem miúdos e miúdas com 14, 15 anos até aos
63 anos.
Sr. Filipe – Sim, até aos
69 anos, temos o Sr. Manuel que é o mais velho, depois temos bastantes na casa
dos 18 anos até aos 30. Somos uma banda nova, moderna. Falta à nossa banda, os
chamados pilares filarmónicos, que é as pessoas que têm entre os 40 e os 50
anos, que é o que existe em todas as bandas, são as pessoas que ficam e
permanecem na estrutura da banda e nós por vezes temos de “comprar” estas
pessoas, porque não as temos residentes. Saíram pessoas nessa altura com as
fases da construção civil e outras coisas que monetariamente davam melhor que a
banda e perderam-se alguns músicos que eram essenciais para a banda e não
temos.
Teresa
- Quais são os instrumentos básicos que tocam e aqueles que ainda fazem falta
na Filarmónica?
Sr. Filipe – Nós vamos
adquirir, muito em breve, um xilofone, que não temos e uma harpa, para andar
nas arruadas, é um instrumento que ajuda as partes agudas, os clarinetes ajudam
todas as partes. Também não temos oboé, não temos tímpanos. Há instrumentos que
agora carecem e que vamos adquirindo, outros ainda não temos, porque as bandas
sofreram alguma mudança instrumental para fazer a adaptação à música atual e
são precisos outros instrumentos que vamos adquirindo.
Teresa
- E em termos de apoios institucionais e de populares, que apoios é que a
Sociedade Filarmónica Turquelense pode contar?
Sr. Filipe – A Sociedade
Filarmónica Turquelense, todos os eventos que faz, não estamos a falar destes
dois últimos anos, por causa da pandemia, mas todos os eventos que fazemos têm um plano e normalmente a receita é sempre
superada. Os populares ajudam a banda,
depois também temos a parte institucional por parte da Câmara Municipal de
Alcobaça, para termos a Escola de Música com a qualidade que temos, tem de ser
com o apoio da Câmara.
Teresa
- Neste momento, temos então a Filarmónica com o grupo que vai fazer atuações e
que está ativo e temos a Escola de Música com quantos alunos?
Sr. Filipe – Temos a
escola com 40 alunos, aproximadamente 30 com instrumento, entre os 6 e os 14
anos. Isto é mais adequado para as crianças que iniciam o 1º ciclo, estão mais
preparadas, são mais novitos.
Teresa
- Quais é que são as atividades mais marcantes ou de maior importância nestes
últimos tempos, não em tempos de pandemia, antes da pandemia?
Sr. Filipe – Antes da
pandemia fizemos 2 encontros de bandas, foram coincidentes com a festa da vila
e com a ajuda da freguesia, fizemos há 3 e 4 anos. Fazemos sempre todas as
festas e procissões da vila com todo o gosto, cada vez existem menos serviços
para as bandas, por isso têm-se de dedicar aos serviços na vila onde se
inserem, porque também a é própria localidade que ajuda a banda.
Teresa
- Em relação ao grupo de teatro, o que me pode dizer sobre ele?
Sr. Filipe – O grupo de
teatro iniciou o ano passado, em ano de pandemia, ensaiaram alguns meses,
depois pararam, depois ensaiaram online, depois juntaram-se e ensaiaram
novamente e já gravaram, estão a trabalhar muito bem. É um grupo pequeno, teve
de ser restrito a 4 elementos, embora o grupo tenha 15 ou mais elementos
inscritos, para começar a trabalhar, possivelmente vamos começar com a formação
este ano.
Teresa
- A situação em que vivemos no mundo, assola as nossas vidas, a orgânica de
tudo, como é que a sociedade filarmónica está a viver estes tempos, que
alterações é que foram feitas, como se apresentam à sociedade, de que forma é
que são apoiados?
Sr. Filipe – Neste tempo
de pandemia, o nosso maestro, não me lembro de reuniu, se mandou por email e as reuniões, houve uma altura em que foram
feitas de toda a maneira, menos presencialmente! Mas o que é verdade é que ele
me chamou a atenção, às direções e aos maestros:’ têm de fazer tudo o que tiver
ao vosso alcance para não perder os músicos’. Porque se os músicos param 3, 6,
9 meses ou 1 ano, perdem-se completamente. A atividade musical carece de
insistência. É muito diferente do desporto. Por exemplo, a pessoa vai fazendo
desporto em casa, a atividade musical se não tiver quem puxe por ele perde-se
mesmo. Então, ele mandava-nos as peças, nós gravávamos individualmente, ele
depois reproduzia tudo aquilo, lançou os vídeos durante os 6 meses do ano
passado e talvez já algum tempo deste ano. Fizemos concertos de rua no verão
passado, foi na sequência da música nas varandas, da animação das varandas e
foi muito bonito!
Fizemos dois concertos
recentemente, em que tivemos de fazer o plano de contingência para o espaço,
que foi o parque do Hóquei Clube de Turquel, gentilmente cedido pelo clube, com
ajuda da freguesia e da câmara. Tivemos bastante audiência, tendo em conta as
normas da DGS.
Teresa
- Sr. Filipe, o fardamento da Sociedade Filarmónica Turquelense obedece a algum
critério ou é proposto por algum músico, pelo maestro, como é?
Sr. Filipe – Eu penso que
para não dizer que não obedece a nenhum critério, ora as bandas têm um
critério, não pode ser um fardamento qualquer, mas penso que não tem um
critério obrigatório, nem de cor. O último optou-se pela cor verde, com o
emblema da filarmónica. No meu tempo era cinzento, os casacos muitos fortes,
idênticos aos das bandas militares. Agora são mais leves, agora é tudo mais
leve.
Teresa
- Sra. Lurdes, no seu tempo houve alteração do fardamento?
Sra. Lurdes – Eu penso
que não. Penso que nessa altura não houve, mudar de fardamento não é assim
todos os anos.
Teresa
- Conserva-se durante um certo tempo aquele fardamento, até que surja uma ideia
nova, é assim?
Sr. Filipe – Exato,
quando o fardamento já está muito gasto, porque o fardamento é um investimento
caro. Eu lembro-me de outros anos, quando a banda de Turquel fazia os
fardamentos, fazia um peditório pela freguesia toda.
Li
no livro que escreveram sobre a Sociedade Filarmónica Turquelense, que esta é a
banda do “Pé Leve”. Durante muitos anos a banda da Sociedade Filarmónica
Turquelense era conhecida em Alcobaça pela banda do “Pé Leve”, pois queixavam-se
as pessoas de que estando em casa, ouviam música, vinham à janela e a banda já
tinha passado, já ia lá longe.
Teresa
– Sra. Lurdes, como é que a senhora descreve a Sociedade Filarmónica
atualmente?
Sra. Lurdes – Atualmente
não estou por dentro, não tenho acompanhado, mas penso que tem conseguido
manter-se, que tem bom nível, que tem qualidade, tem gente que leva a sério, os
tais “brutos dos queixos” agarram a sério. Os turquelenses quando agarram
alguma coisa, como é o caso da música, levam sempre a sério e sempre levaram a
sério, desde o principio da banda. Salientamos o valor histórico e cultural desta
vila de Turquel, outrora umas das 13 vilas dos coutos de Alcobaça e agora a
viver a era das novas tecnologias, contudo parece fácil, porque tudo se pode
aprender, aprende-se com pouco esforço.
Teresa
- Sr. Filipe Rebelo, que apelo faz para que esta banda continue a crescer e não
passe apenas de uma história para contar.
Sr. Filipe – Eu penso que
a banda tem condições para seguir. A Escola vive em função da banda. Se não
houver Escola, a banda não tem capacidade para andar e o apoio que peço é que
as pessoas aprendam música, porque a música ultrapassa outros horizontes e as
pessoas ficam com um conhecimento muito melhor aprendendo música.
Teresa
Bento - Agradeço a vossa presença, é sempre muito importante falar de Turquel,
das suas raízes, da sua cultura, muito obrigado à Rádio Benedita FM e obrigado
a todos os que estiveram a ouvir.
P:S: À Terra Mágica das
Lendas agradece à Teresa, à Sra. Lurdes e ao Sr. Filipe , esta entrevista que passou
na Benedita FM 88.1, no dia 26 de Setembro de 2021, no âmbito das Jep’s e no
cumprimento do Plano de Atividades da TML, preparando os 500 anos da Benedita
dedicado às freguesias vizinhas Alvorninha, Santa Catarina e Turquel. Lúcia Serralheiro
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