Terra Mágica das Lendas divulga a Banda Filarmónica de Alvorninha, no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2021 Em parceria com a Rádio Benedita FM 88.1
Transcrição da
entrevista de Vera Catarino (á dir.) a Catarina Correia (à esq. ) e a Tomas
Matos (ao centro) músicos da BF de Alvorninha em Set 2021
Vera Catarino é natural
da Ramalhosa, lugar da Freguesia de Alvorninha e é professora de EMEREC no ECB
da Benedita. A pedido da terra Mágica das lendas aceitou de bom grado dar a sua
colaboração preparando esta entrevista com os seus convidados.
«Boa tarde a todos, o
meu nome é Vera Catarino.
Antes de mais quero
agradecer à Terra Mágica das Lendas por me ter convidado para uma conversa que
vamos ter seguidamente sobre a Banda Filarmónica de Alvorninha.
A entrevista, prefiro
dizer, que será uma conversa, com os convidados de hoje e decorre no âmbito das
Jornadas Europeias do Património, em que se vai explorar o papel das
Filarmónicas enquanto lugares de identidade cultural, com uma memória coletiva
e de afirmação de um património comum, cuja riqueza reside na diversidade de
influências musicais, na diversidade de pessoas oriundas de diferentes áreas
profissionais e classes sociais, que se juntam para harmoniosamente tocar
música.
As BF são espaços de
promoção e formação humana extremamente importantes dado que a sua formação
pode integrar um grupo de pessoas muito heterogéneo, pela diferença de idades,
de género, classe social, nacionalidade ou grau de escolaridade, constituindo
por esta natureza um espaço privilegiado de inclusão e promoção das relações
interpessoais.
Sobre a Banda
Filarmónica de Alvorninha gostava de deixar aqui o registo de que está este ano
a celebrar o seu centenário. Há cem anos atrás era conhecida como a banda do
barrete, pois os músicos atuavam vestidos ‘à civil’ com apenas uma boina na
cabeça. O primeiro local onde atuaram foi exatamente aqui na Benedita em 1921.
Eu sou da Ramalhosa, um
pequeno lugar que pertence à freguesia de Alvorninha. Comigo estão a Catarina
Correia, Arquiteta de profissão, mãe de 3 filhos e Presidente da Banda
Filarmónica de Alvorninha, onde já tocou vários instrumentos de sopro,
atualmente toca Trombone. Para esta conversa está também o Tomás Matos, jovem
de 17 anos terminou há pouco tempo o 12º ano do Curso Profissional de
Multimédia, cujo trabalho Projeto de Aptidão Profissional foi sobre a Banda.
Catarina e Tomás, o
objetivo principal da nossa conversa de hoje é transmitir a todos os que nos
ouvem aspetos e histórias que tornam as bandas, neste caso a Banda de
Alvorninha, tão importantes socialmente e humanamente, por impactarem em grande
dimensão as vidas daqueles que se entregam a estudos, ensaios e à música.
Vera - Vou dirigir a primeira pergunta à Catarina.
Gostaria de saber,
já assim para começar, qual a diversidade de idades dos músicos atuais da
banda, e como é que se gere um grupo, com tanta diferença de idades e como é a
relação entre os mais velhos e os mais novos.
Catarina - Gerir é
fácil, por um lado, mas são pessoas o que nem sempre é fácil de gerir. Em
relação à diferença de idades é uma gestão muito fácil, porque isso é natural
numa Banda Filarmónica. O nosso elemento mais novo tem 12 anos e o mais velho
tem 48, mas o convívio é muito natural, porque quando estamos a tocar é como se
fossemos todos da mesma idade. Claro, que há alturas em que não estamos a
tocar, nos almoços, convívios, viagens, etc... onde há sempre troca de
experiências, brincadeiras, mas o que é um facto, é que em termos relacionais,
essa diferença não se nota. Existe um ambiente muito bom, todas as pessoas se
dão bem, não estou só a dizer isto, por estarmos na rádio, mas é uma realidade.
Não temos ali choque de gerações. Até tenho pena que não existam pessoas mais
velhas.
Eu quando entrei para a
banda tinha 11 anos e na altura tinham pessoas com 60 e 70 anos a tocar na
banda, isso hoje já não acontece, com muita pena nossa, mas o relacionamento
sempre foi bom.
Tenho memórias de nos
levantarmos às 8h para irmos fazer o peditório e havia sempre um senhor que
levava sempre um bolso cheio de pastilhas elásticas e rebuçados para nós
comermos durante o peditório. Por isso, a questão das idades não é um problema,
até pelo contrário, é muito bom, ajudamo-nos mutuamente.
Vera – Promove-se um encontro intergeracional que enriquece os mais novos e
os mais velhos, e a Catarina conheceu
a banda desde muito cedo.
-. Como foi a tua
integração na Banda, como te sentias na relação com os mais velhos?
Catarina
- Não tive familiares na banda. Só um tio-avô, mas não cheguei a tocar com ele.
Quando fui para a banda, ele já tinha saído há muito tempo.
Eu
fui para a banda por acaso, uma tia minha falou-me porque não ia experimentar.
Foi mesmo por acaso.
Eu
sou de Vila Nova, um dos maiores lugares da freguesia de Alvorninha, Vila Nova
sempre foi o lugar da freguesia, e ainda hoje é, que tem mais
representatividade na banda. Sempre foi uma terra de músicos e até é um pouco
por aí. Havia um senhor lá da terra que nos levava para os ensaios. A minha
integração foi muito fácil e já altura essa diferença de gerações não se
notava. Os meus amigos, sempre foram os amigos da banda, mantinha os amigos da
escola e os da banda. Alguns até mais velhos, bem mais velhos do que eu, e
mesmo assim o relacionamento sempre foi muito bom.
Vera - Tomás, há quantos anos estás na Banda, e
fala-nos um pouco da tua integração, como te sentiste perante os músicos mais
velhos?
Tomás - Entrei para a Banda
com 14 anos, agora tenho 17, portanto há 3 anos, mais ou menos, que estou na Banda.
Entrei na Escola de Música com 10 anos. A integração não custou nada. Foi bastante
fácil, não houve qualquer conflito na Banda por ser muito novo ou por não saber
tocar. Às vezes pode haver esses conflitos, ‘erraste numa nota por exemplo’,
mas é tranquilo. Toda a gente erra, somos humanos. Eu acho que foi bastante boa
a integração.
Vera - Custou-te muito passar
as primeiras lições?
Tomás - Não. Vamos
sempre aprendendo em todas as sessões, que tinha semanalmente. Vamos sempre
aprendendo um pouco mais e ultrapassando os nossos obstáculos.
Vera - Esta questão
das idades é fundamental para compreendermos o papel de inclusão que têm estas
associações. Mas, no que diz respeito ao género, sabemos que devido a questões
culturais e padrões sociais estabelecidos há 100 anos atrás, as bandas
começaram por ser constituídas unicamente por homens. Também foi o que
aconteceu na Banda de Alvorninha?
Catarina,
em que ano se inscreveu o primeiro elemento feminino na banda e qual a sua
idade?
Catarina - Do que temos
registo, só depois do 25 de abril entraram mulheres na Banda, por volta de
1979. Foi quando houve o ressurgimento da Banda. Na altura, não conseguimos
confirmar, mas penso que não foi uma única pessoa, mas 5 ou 6 mulheres, jovens,
entre os 15 e os 20 anos, provavelmente.
Depois, esse processo
de entrarem mais mulheres foi muito natural. Quando eu entrei para a banda, já
havia mais raparigas da minha idade. Mas maioritariamente homens, claramente,
muitos na faixa etários dos 40 anos e mais velhos, mas também já havia jovens.
Raparigas da minha idade e mais velhas.
Atualmente estamos
quase num empate, 20 mulheres e 22 homens. Cada vez se nota menos essa questão.
Vera – Catarina em relação aos instrumentos, há
instrumentos mais tocados por homens e outros por mulheres, ou é heterogénea a
escolha do instrumento?
Catarina - Antes
notava-se mais essa questão na escolha dos instrumentos para homens e outros
para mulheres. Eu toco trombone, não é muito comum ver-se mulheres a tocar este
instrumento, na banda somos 2 raparigas a tocar trombone. Mas o Tomás toca
flauta, antigamente não se viam homens a tocar esse instrumento e agora vêm-se
mais homens a tocar flauta. Na percussão também, isso sempre aconteceu, mas
cada vez menos se nota.
Vera - Tomás, o que te levou a fazer a opção pela flauta?
Tomás - Eu lembro-me
que estávamos na aula de Formação Musical, na altura com o ex-maestro Pedro,
ele mostrou-nos alguns vídeos que tinha preparado de instrumentos: flauta,
saxofone, dos instrumentos que integram a percussão e o 1º vídeo que ele
mostrou foi de flauta. Eu já nem prestei muita atenção nos outros, acho que
escolhi logo a flauta. Fiquei apaixonado pelo som que a flauta tem e acho que
ali, naquela aula, escolhi logo que se eu pudesse tocar um instrumento, acho
que vai ser flauta. Decidi logo ali nessa aula.
Vera - Foi a
musicalidade do instrumento que te cativou, não houve aqui nenhum preconceito.
Tomás - Na altura eu era
uma criança. Não tinha a noção de que poderia haver esse tipo de preconceito
relativamente ao tipo de instrumento que tocávamos.
Vera - Esta Banda tem muitas histórias para contar,
muitas pessoas por ali passaram, de muitas gerações e idades e de outras
nacionalidades certamente.
Catarina
na Banda existem ou existiram elementos de outras nacionalidades? Houve dificuldades de gestão pelo facto dessa
diversidade de origens culturais, de língua, gostos musicais, etc.?
Catarina - Temos
pessoas da Benedita, de São Gregório, uma freguesia perto de Alvorninha, temos
uma família de 3 músicos que são de Alguber. Os restantes são maioritariamente
de Alvorninha. Curiosamente, Alvorninha é a maior freguesia do concelho de
Caldas da Rainha, mas é muito disperso e atualmente não temos nenhum músico que
seja mesmo do lugar de Alvorninha. Não há ninguém que possa ir a pé, é uma das
dificuldades de ser uma Banda Filarmónica de Alvorninha, todos os músicos têm
de ir de carro para os ensaios.
De outras
nacionalidades, não me recordo que houvesse alguém. Apenas tivemos um músico
que esteve emigrado com os pais na França, mas voltaram para Alvorninha, tinha
aprendido trompete lá, veio ter connosco querendo tocar na banda, acolhemo-lo
naturalmente, foi tudo tranquilo.
Vera - Alguma vez aconteceu ter sido recusada a entrada de um novo
elemento tendo por base o seu perfil pessoal (limitações, incapacidades) ou
condicionamentos da própria BF?
Catarina - Nós não
recusamos ninguém. As pessoas ou se sentem bem connosco ou não. Costumo dizer
que a Banda é como qualquer outra atividade que tenhamos, não é para toda a
gente, obviamente. Temos de abdicar de algumas coisas na nossa vida, como
qualquer hobby.
Nós nunca recusamos
ninguém, não houve essa necessidade, é um grupo muito heterogéneo. Qualquer pessoa
se encaixa no nosso grupo. Nós tentamos, ao máximo, acolher todas as pessoas
por igual, claro que cada um tem as suas especificidades. Por isso é depois o
maestro, tirando os ensaios, que terá que fazer um trabalho mais específico.
Nós, Direção, temos de tratar todas as pessoas por igual, mesmo o grupo e como
há muita heterogeneidade, isso é muito fácil de acontecer, a integração é
sempre muito simples. O que pode acontecer e já aconteceu, houve um aluno, já
há uns bons anos, que fez o seu percurso na Escola de Música. Ia-se a estrear a
tocar, arranjámos farda, e no dia da atuação chegou lá a dizer que não era
aquilo que ele queria, mas isso é muito raro acontecer, pelo menos se começarem
logo a fazer ensaios e com instrumento.
O sucesso da Escola de Música
não é aquele que desejaríamos. Claro que é normal que crianças que integram a Escola
de Música, depois não cheguem à Banda, mas ao longo dos tempos, essa tendência
também tem vindo a mudar, com o ensino um pouco mais exigente, cedo percebem,
se é aquilo que querem ou não
Vera – Tomás , qual o percurso de alguém que chega à Banda sem
qualquer grau de formação musical?
Há
algum ritual de integração?
Tomás - Quando cheguei à lição 27, que é a lição de
solfejo, que é a lição em que recebemos o instrumento e que podemos ter aulas
de instrumento com o professor, nessa altura integrei também a classe de
conjunto com o maestro Renato, que tinha entrado na banda também há pouco
tempo. Por isso, o conjunto de alunos que receberam o instrumento há pouco
tempo e que se juntam para tocarem músicas mais simples, mas que se juntam para
criar uma harmonia entre diversos instrumentos, porque estão habituados a ouvir
o seu próprio instrumento, também para conseguirem perceber como é o ambiente
da Banda e como depois poderá ser, se vierem a integrar a Banda.
Em
relação ao ritual de integração, no 1º concerto o padrinho de naipe, pega numa
tampinha de água e batiza o elemento estreante, uma tampinha de água, ou às
vezes, uma garrafa de água inteira, como aconteceu há pouco tempo, no parque
das Caldas. É um momento simbólico para o músico. Lembro-me perfeitamente que
me aconteceu em Alvorninha, num encontro de Bandas em que me estreei e quase a
classe de flautas inteira, foi um momento muito emocionante para mim e para
todos aqueles que se estrearam naquele dia. A família acompanha também esse
momento e para eles também é emocionante. Veem que os filhos e/ou familiares
estão ali num momento importante para eles.
Vera - A Banda de Alvorninha marcou e marca a vida de muitas pessoas
que por lá passaram enquanto músicos e dos sócios que sentem orgulho de apoiar
uma associação destas.
- Quais são as
motivações para que as pessoas se tornem sócias da Banda e quantos são os
sócios atuais da banda?
Catarina - A Banda
acolhe pessoas tão diferentes e contribui para a formação não só musical, mas
também pessoal dos que por lá passam.
Temos atualmente cerca
de 200 sócios. Foi uma coisa herdada. Esta direção está no cargo desde 2003.
Quando tinha 16 anos já colaborava com a Direção, apesar de nunca ter feito
parte dela até a essa data. Ia com a minha lambreta cobrar as cotas porta a
porta. Foi o sócio nº1 que teve a iniciativa de criar sócios para ajudar,
contribuir com alguma coisa para a banda. Nós herdamos essa mais valia, porque
temos muitos sócios pagantes e que nos acompanham. Tenho a ideia de que na
nossa freguesia não há muitas associações com sócios que até ligam ou mandam um
e-mail a dizer que querem pagar as cotas, como fazer para as pagar. Por vezes
nas nossas festas fazem fila para pagar as respetivas cotas, isso é realmente
muito bom. Nós fomos tocar ao Parque das Caldas. Estavam muitas pessoas de
Alvorninha. As pessoas seguem-nos, vão aos concertos e acompanham-nos.
Vera - Nas Bandas um
elemento muito importante para a inclusão é o maestro. Neste momento a Banda de
Alvorninha é dirigida pelo maestro Renato Tomás.
Catarina tens
memória dos últimos maestros que foram importantes e que para ti te marcaram
neste teu percurso pela banda?
Catarina - Marcaram-me
todos, porque o meu 1º maestro é o Sr. Raul Quintino Raimundo, foi quem pegou
na banda depois do 25 de abril, ele já era um grande músico. Daí para a frente
todos eles me marcaram, a maestrina Susana Henriques já apanhou a minha
transição para a presidência da Direção.
O primeiro maestro foi
quem me ensinou tudo, depois os outros trabalhei com eles de muito próximo. Já
como presidente da Banda foi a Susana Henriques, o Pedro Santos e atualmente o
Renato Tomás. Todos eles tiveram uma extrema importância.
O Sr. Raul por ter
conseguido com que a banda ressurgisse, depois de estar parada durante alguns
anos. Era um maestro que na altura ensinava todos os instrumentos e a formação
musical.
Depois, na fase
seguinte já foi a Susana com um outro tipo de formação. Ela é que começou a
criar a Escola de Música nos moldes em que existe hoje.
Com o maestro Pedro
Santos demos início à classe de conjunto.
O nosso atual maestro
tem dado continuidade ao que estávamos a fazer, ajudou-nos a impulsionar mais a
escola de música e com a banda. Todos eles têm sido, para mim, muito
importantes.
A Escola de Música
começou em 2001. Em 20 anos a escola evoluiu muito. Inicialmente começou apenas
com um professor de formação musical e um de saxofone. Ao longo dos anos fomos
aumentando. Atualmente temos 10 professores e 40 alunos na Escola de Música e
nem todos são de Alvorninha. A Escola é muito boa porque é uma atividade/oferta
que não existe na nossa freguesia. Nós não prestamos um serviço como o
conservatório, mas acho que no que existe de escolas de música, acabamos por
prestar um serviço de qualidade. Os alunos pagam apenas 10 euros por mês, o que
não é muito tendo a em conta todas as despesas da Escola, bem como da banda, as
fardas, os instrumentos e os professores são todos pagos pela banda. Todos os
nossos músicos tocam voluntariamente, quando tocamos, o que as comissões de
festas nos pagam é para a Escola.
Se não fosse a Escola,
rapidamente a banda acabava. Naturalmente há sempre músicos a sair da Banda e
temos de renovar. Nunca tivemos tantos elementos na Banda como temos
atualmente. Tirar os miúdos da frente do computador e trazê-los para uma
atividade de grupo, penso que é isso que os pais valorizam.
Vera - Quais os valores que pela sua
atividade, uma Banda Filarmónica, vivencia e desenvolve nos seus elementos? Que
impacto é que isso tem na vida das pessoas, tens alguma história que possas
partilhar?
Catarina - O
companheirismo, a responsabilidade, o compromisso. Temos de ser amigos de quem
nos rodeia, porque eu não posso apenas pensar em tocar trombone sozinha, tenho
de ouvir os meus colegas, tenho de saber se estamos todos juntos no mesmo
barco, seguir todos o maestro e isso é fundamental. A questão do compromisso e
da responsabilidade é que para nós fazermos um concerto, temos muitas horas de
trabalhos por trás, temos de estar todos, os ensaios são fundamentais, estudar
em casa sempre que possível, com a vida familiar é difícil, às vezes tento, o
meu filho também está a tocar, às vezes vou tocar com ele. Mas os ensaios são
fundamentais, para chegar ao concerto e fazer um bom trabalho e todos temos que
ter a noção disso.
Durante a pandemia e o
confinamento, em que não pudemos estar juntos, infelizmente nesse período a
banda fez 100 anos, tínhamos planeado um concerto que não pudemos realizar.
Nesse dia, fizemos uma reunião online e perguntámos aos músicos de que é que
sentiam mais falta, o que é que gostavam mais na Banda, e o que foi curioso é
que muitos músicos disseram que sentem falta de fazer peditórios, que é
recolher donativos para a Banda e para a Festa, que geralmente tem uma
procissão e até um concerto no final.
É nos peditórios em que
temos mais contacto uns com os outros e nos conhecemos melhor. É importante
para os músicos saberem que a Banda tem custos e quando chegar a vez de eles
contribuírem, saberem que têm de o fazer.
Cada um de nós poderia
escolher a Banda sonora da sua vida, as pessoas que passaram na banda
certamente têm uma banda sonora marcada pelas músicas que tocaram na banda
Vera - Qual a música
da Banda que vocês Catarina e Tomás mais gostaram de tocar e que faria parte da
banda sonora da tua vida?
Catarina - Todas as
experiências são marcantes, mas há uma em começamos às 7h de domingo com o
peditório, depois com a procissão de mais 1h.30m e ainda são alguns kms.
Não há nenhuma
marcante, todas o são por igual. O convívio é importante entre os músicos, não
notam o cansaço. Saberem que chegaram ao final do dia, a saberem que
conseguiram cumprir a sua missão.
Tomás - Os ensaios são
cansativos, mas é um cansaço bom, porque no dia do concerto vai valer a pena.
Existem ensaios mais produtivos, outros nem tanto. Há ensaios durante a semana
e às vezes aos fins de semana. Todos os ensaios são muito importantes, os
músicos nem se apercebem do cansaço.
Quem escolhe o
reportório é o maestro, nós delegamos a ele essa tarefa, porque é um músico
profissional, nós somos todos amadores, melhor que ninguém sabe a estrutura de
um concerto, como deve começar e acabar. Acolhemos sugestões dos músicos, se o
maestro considerar que é exequível para a banda, nós tocamos e já aconteceu por
diversas vezes, mas maioritariamente é o maestro que lança os desafios.
Tentamos que as pessoas
vejam um espetáculo que não seja só ouvir a banda, já fizemos parcerias com
poetas, com o rancho de Alvorninha e até com artes circenses.
Vera - E
na vossa experiência como membros de uma BF o que é que isso acrescentou e
acrescenta à vossa vida?
Catarina - Eu nunca
tinha pensado nisso, mas tenho uma que é uma música de Ennio Morricone,
andávamos a tocar a música na altura e foi quando se casou a minha melhor
amiga, a Banda fez-lhe uma surpresa e tocámos essa música. Foi daquelas vezes
em que me arrepiei a sério a tocar uma música. Já tive outros momentos, mas
esse foi o que mais me marcou.
Tomás - A música que foi tocada num concerto na Praça
da Fruta com as artes circenses, a música chamava-se “Cantigas da Rua”. Conseguimos
variar tudo o que tocamos nesta música, que ainda é uma música longa. Esta peça
está guardada no meu coração e espero tocá-la outra vez.
Catarina - Uma coisa
muito gira na Banda, é fazer com que os jovens gostem de tocar música popular
portuguesa. O maestro tenta diversificar ao máximo o reportório num concerto.
Tomás – A Banda
transmite-nos os mesmos valores já falámos há pouco. O companheirismo e a
amizade que é trabalhado entre os músicos e o maestro. Muito do que sou hoje se
deve à Banda e à Escola de Música.
Catarina – É uma
pergunta difícil, tenho muitos anos de dedicação à Banda. A Banda são os meus
amigos, a minha família. Eu e o meu marido tocamos na Banda, o meu filho mais
velho já está a aprender, gostava de um dia ver os 5 na Banda. A minha mãe anda
na Escola de Música e sei que gostaria de um dia chegar a tocar na Banda.
Tive pessoas que me
marcaram muito, algumas que já faleceram e que realmente foram importantes para
mim. Quando decidi ser presidente da Banda, faleceu um senhor que tinha sido
presidente. Na última vez que estive com ele, disse para mim mesma, no que
depender de mim, a Banda nunca vai deixar de existir. Espero ter 80 anos e
ainda conseguir tocar trombone, ou outra coisa, nem que seja ferrinhos. Se não
tocar, pelo menos que esteja lá a contribuir.
Vera – O gosto pela
música enriquece as nossas vidas e a vida daqueles que a ouvem.»
P:S: À Terra Mágica das
Lendas agradece à Vera, à Catarina e ao Tomás esta entrevista que passou na
Benedita FM 88.1, no dia 26 de Setembro de 2021, no âmbito das Jep’s e no
cumprimento do Plano de Atividades da TML, preparando os 500 anos da Benedita
dedicado às freguesias vizinhas Alvorninha, Santa Catarina e Turquel. Lúcia Serralheiro
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